Recentemente, fui surpreendida por alguém que queria me fazer confidências e solicitar meus conselhos sobre assuntos completamente irrelevantes para mim. Por quê? Para quê? Que diabos eu tinha a ver com tudo aquilo? O que faz alguém pensar que estamos interessados em ouvir suas lamúrias? O mais engraçado é que eu não sou aquela garota que alguém procura para queixar-se, requisitando ao fim do diálogo alguma super mensagem de apoio. Vocês sabem como é, todo mundo conhece bem, ao menos já se deparou em algum momento na vida com esses seres encantados que parecem carrega consigo uma enorme placa luminosa com os seguintes disseres: “Ombro amigo. Conselhos grátis”. Bom, eu nunca fui esse tipo de ser encantado. Sempre me pareceram estocar frases de efeito, e depois despejarem como mantras para qualquer um que esteja desesperado o suficiente para acreditar.
Bom, o fato é que se abrir com alguém requer muita intimidade. Ou será que não? Será que é mais fácil despeja seus conflitos em quem não tem reais motivos para te julgar? De qualquer forma, conselhos são muito perigosos. Por milésimos de segundos, apavorei-me com a idéia de poder interferir no rumo daquela história. Depois comecei a pensar: como eu poderia oferecer meus conselhos para alguém cujo dilema e desfecho de sua trama, eu, para ser honesta, não dava a mínima?
Aconteceu então deu olhar para aquela garota na minha frente e imaginar todas as vezes que abrir um caderno e segurei firme no lápis destrinchando sentimentos sobre qualquer coisa que me afligia, na ânsia de respostas que nunca vieram por mais que eu esgotasse folhas e mais folhas. Elas nunca vieram numa bandeja. Só que eu sempre me sentia mais leve, mesmo que eu rasgasse a folha depois.
Ela continuava lá, gesticulando e usando seu corpo para uma quase encenação do ocorrido, enquanto eu silenciosamente, e com uma calma ainda desconhecida mim, a ouvia. Simplesmente a deixei falar, falar, e falar... Ate que se esgotasse. Acabei sendo tão relevante para seu desfecho quanto era antes. Mas, no fim de tudo, percebi que havia aprendido algo, e que a devia agradecimentos. Percebi o quanto podemos ser ignorantes e medrosos diante de alguém que parece querer nos fazer de porto seguro, sem perceber que só o que querem é o mais simples de nós. Justamente, o que os verdadeiros egoístas mais negam.
Por isso, serei eternamente grata.
Muito obrigada.